Diariamente, somos bombardeados por informações vindas de todos os lados. Recebemos notícias, indicadores, análises, e prognósticos que chegam dos cinco continentes. Apesar da enormidade de informações, quase sempre nos vemos incapazes de compreender o que ocorre. Este blog pretende ser uma contribuição para entender esse mundo complexo. É claro, não tem a pretensão de ser um oráculo, que dê conta de tudo o que ocorre no mundo, mas uma busca incessante de entender o que acontece à nossa volta.

domingo, 24 de novembro de 2013

Acordo entre potências mundiais e Irã

No dia 24 de novembro de 2013, um acordo inicial foi assinado entre  o Grupo 5+1 - os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Rússia, França, Grã-Bretanha e China) mais a Alemanha - e a República Islâmica do Irã, em torno do programa nuclear iraniano. Há algumas semanas, iniciaram-se contatos diplomáticos para se chegar a um acordo. Embora as discussões fossem difíceis, era de interesse de ambos os lados que um acordo fosse alcançado (Ver Negociações entre Estados Unidos e Irã: há possibilidades de acordo ?). Mas, afinal, o que se obteve com esse acordo inicial?


O acordo definiu uma série de obrigações a serem cumpridas pelas autoridades iranianas, com o objetivo de evitar que o Irã obtenha capacidade de construir uma bomba nuclear. Porém, permite a existência de instalações nucleares e um grau limitado de enriquecimento de urânio. Por outro lado, as potências reunidas no Grupo 5+1 se comprometeram a revogar algumas sanções, o que será um alívio para a economia iraniana.
Abaixo seguem os principais termos do acordo.

Obrigações do Irã
- Paralisar o enriquecimento de urânio acima de 5%;
- Desmantelar conexões técnicas necessárias ao enriquecimento acima de 5%;
- Não instalar centrífugas adicionais de qualquer tipo;
- Não construir novas instalações para enriquecimento de urânio;
- Paralisar a operação do reator na usina da cidade de Arak;
- Permitir inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica.

Medidas do Grupo 5+1
- Não adotar novas sanções pelo período de 6 meses;
- Permitir o acesso a 4,2 bilhões de dólares em divisas iranianas que estavam congeladas em bancos estrangeiros;
- Suspender algumas sanções sobre as exportações de ouro e outros metais preciosos, produtos petroquímicos e automóveis, no valor aproximado de 1,5 bilhões de dólares;
- Permitir que europeus comprem petróleo iraniano em níveis limitados.

O acordo teve grande repercussão internacional. Os dois lados envolvidos elogiaram o acordo, como uma vitória diplomática. O presidente norte-americano Barack Obama fez um pronunciamento em que deu as congratulações aos negociadores e disse que o acordo faria o mundo "mais seguro", ao impedir que o Irã desenvolva armas nucleares.
Já o Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi duro, ao chamar o acordo de "erro histórico". Igualmente contrariados ficaram os demais aliados norte-americanos na região, como Arábia Saudita e alguns Estados do Golfo. Todos temem que o Irã continue seu programa nuclear e um dia obtenha a bomba. Além disso, também enxergam o acordo como uma vitória diplomática do Irã e um importante passo para seu fortalecimento diante dos outros atores da região.

Esse foi apenas o primeiro acordo entre as partes. Devemos acompanhar os próximos eventos para sabermos se haverá um alívio das tensões. Sobretudo, resta saber se uma relação amistosa entre Irã e Estados Unidos pode surgir e alterar o equilíbrio de poder no Oriente Médio.

Ver também:

domingo, 10 de novembro de 2013

Negociações entre Estados Unidos e Irã: há possibilidade de acordo?

Durante as últimas semanas, temos visto um intenso esforço diplomático para que se chegue a um acordo entre Irã, Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Alemanha a respeito do Programa Nuclear Iraniano. Certamente, os dois atores mais envolvidos são os Estados Unidos e o Irã, países que são adversários há décadas, desde que a Revolução de 1979 derrubou o Xá Rheza Pahlevi, aliado de Washington.
Encontros tensos, vazamentos de informações, uma movimentação intensa de oficiais diplomáticos - tudo deixa transparecer que a negociação não será fácil.
Porém, há alguma possibilidade dessa negociação dar certo?


Como sempre acontece com negociações internacionais, é difícil saber ao certo o que está ocorrendo a portas fechadas e se o que é divulgado para a imprensa é real ou apenas um modo encontrado para passar mensagens a adversários e a alguns aliados. No entanto, pelo que ocorre nos Estados Unidos e no Irã, podemos tentar inferir algumas possibilidades de ações por parte dos envolvidos.
O Irã tem assumido uma postura bastante diferente desde que Hasan Rohani assumiu a presidência do país, sucedendo Mahmoud Ahmadinejad, que era persona non grata nos meios diplomáticos internacionais por sua postura belicosa e discursos inflamados (Ahmadinejad chegou, inclusive, a negar o Holocausto). Rohani assumiu a presidência do Irã em meio a uma grave crise econômica, advinda das sanções internacionais impostas por Estados Unidos, União Europeia e ONU.
Desde 2006, a ONU aprovou resoluções condenando o enriquecimento de Urânio em usinas nucleares iranianas. Porém, autoridades do país dizem que o programa nuclear é pacífico e o enriquecimento de Urânio se deve a necessidades energéticas. Como esse procedimento pode levar à construção de bombas nucleares, as potências europeias e Estados Unidos pressionam para que o Irã ponha fim ao programa ou o submeta a uma rigorosa inspeção por parte da Agência Internacional de Energia Atômica - AIEA. O Irã nega as acusações de que seu programa tem fins militares, afirmando que se mantém comprometido com o Tratado de Não-Proliferação de Armas Atômicas.
As sanções foram aprovadas e desde então o Irã vem passando por inúmeras dificuldades econômicas. A venda de petróleo, que perfaz cerca de 50% da receita do país, foi duramente afetada. O Irã possui cerca de 9% das reservas de petróleo do mundo.
As sanções da União Europeia são especialmente danosas ao Irã porque como o comércio e outros negócios com os Estados Unidos se mantêm restritos desde 1979, a União Europeia tem sido um dos principais parceiros econômicos do Irã.
Em 2012, a União Europeia baniu a compra de petróleo iraniano. Os europeus compravam 20% da produção iraniana. Entre 2011 e 2013, a exportação de petróleo iraniano caiu de 2,2 milhões de barris por dia para 700 mil. Logo, essa sanção acertou em cheio a economia do país.
Além disso, há as sanções financeiras, que impõem restrições à circulação de divisas entre o Irã e países estrangeiros. Em janeiro de 2012, a União Europeia congelou todos os ativos do Banco Central Iraniano em instituições financeiras dos 27 Estados membros. Já os Estados Unidos, impõem restrições a empresas que têm relações com o Irã, piorando ainda mais a situação do país.
Com isso, nos últimos anos, a economia iraniana vem decrescendo significativamente, muitos negócios pequenos e médios estão à beira da falência e o desemprego cresceu, especialmente entre os jovens.
Assim, é bastante provável que Rohani busque um acordo. Se a situação permanecer nesse ritmo, analistas avaliam que a economia do Irã pode entrar em colapso dentro de alguns meses.
Na verdade, Rohani foi eleito com um discurso político que afirmava que tiraria o Irã do isolamento diplomático criado por Ahmadinejad. Para os apoiadores de Rohani, o Irã deve adotar algumas medidas políticas demandadas pelos Estados Unidos e União Europeia. Porém, ele encontrará uma feroz resistência interna se resolver adotar um tom mais conciliatório com Washington.

Por outro lado, parece que o governo norte-americano anseia por uma solução diplomática rápida. Há uma pressão para que o Presidente Barack Obama não permita que o Irã tenha armas nucleares. A principal voz nesse sentido é do Primeiro Ministro de Israel Bejnamin Netanyahu, que disse estar disposto a atacar o Irã, sozinho se necessário (ou seja, mesmo sem o aval dos Estados Unidos).
Isso seria a pior coisa a acontecer para a estratégia de longo prazo dos Estados Unidos no Oriente Médio e no Golfo Pérsico. Os Estados Unidos tentam nesse momento estabilizar a região sem o recurso militar. Há uma pressão interna para que Obama não envolva os Estados Unidos em uma nova guerra no Golfo Pérsico, depois dos efeitos catastróficos da guerra do Iraque (Ver 10 anos da Guerra do Iraque, parte 1 e parte 2). Assim, se Israel atacar o Irã e a guerra adentrar um estágio perigoso (com o envolvimento de outros países), os Estados Unidos deverão agir. Para muitos nos Estados Unidos, esse seria um cenário catastrófico, que criaria condições econômicas devastadoras para a região, o que, por sua vez, prejudicaria a já combalida economia norte-americana.

Por conta disso, talvez Estados Unidos e Irã cheguem a um acordo. Embora as negociações sejam difíceis, há possibilidade de que uma solução de compromisso seja alcançada. Já foram propostas nos últimos dias algumas saídas, como o fornecimento de Urânio por países estrangeiros, em troca da não utilização de certos equipamentos para enriquecimento no próprio Irã. Possivelmente, negociações sobre as intenções militares dos norte-americanos na região devem estar ocorrendo, pois o Irã não desejaria abdicar de um possível programa nuclear militar sem garantias de que o país não seria atacado pelos Estados Unidos.
Por fim, não é certo que o acordo seja alcançado, mas os dois lados anseiam isso. A dificuldade reside nos limites que cada um tem por trás de si para aceitar certas condições. Tanto Irã quanto Estados Unidos não querem que a questão degenere em confronto militar, mas também não podem aceitar qualquer condição.

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