Na última semana, ocorreram na China maciços protestos de rua contra o Japão. De início as manifestações eram pacíficas e os chineses gritavam slogans contra o Japão e exibiam faixas pedindo boicote a produtos japoneses. Contudo, houve também casos de violência, entre manifestantes e policiais. Além disso, os protestos se radicalizaram e os japoneses passaram a temer por sua integridade física. Empresas deram folga a empregados e grandes conglomerados japoneses de eletro-eletrônicos, como Panasonic e Canon, e montadoras, como Toyota, Nissan e Honda, suspenderam temporariamente as atividades na China em virtude da falta de segurança.
Mas afinal, o que explica esses tumultos? Qual é a causa desses distúrbios?
A causa para a presente situação é a indignação de parte da população chinesa a respeito do controle japonês de um conjunto de ilhas que os chineses alegam ser parte da China. O conjunto de ilhas - chamadas de Sensaku pelos japoneses e Diaoyu pelos chineses - foi dominado pelo Japão em 1895 em virtude da guerra entre o Japão e a China da Dinastia Qing. Desde então, a posse das ilhas é disputada. O Japão alega que ao ocupar o arquipélago em 1895 passou a ter o direito de posse sobre o território, afirmando, ademais, que a China mantinha as ilhas despovoadas. Já os chineses alegam que as ilhas fazem parte da China desde "tempos imemoriais" e que o Japão tomou as ilhas ilegalmente dos chineses. Atualmente, a importância das ilhas, que são desabitadas, reside nos importantes depósitos de gás natural descobertos no território.
A contenda se agravou no início de setembro, quando o governo japonês anunciou a compra das três ilhas e a anexação definitiva ao território nacional japonês. Tal anúncio foi o estopim para o início dos protestos.
Por trás dos incidentes atuais, na verdade, está a questão mais profunda da tensa relação entre China e Japão.
A relação entre os dois países é delicada desde, pelo menos, o final do século XIX. Após a revolução Meiji, em 1868, o Japão se expandiu para fora do arquipélago e iniciou um processo de aquisição de territórios no mar da China e no Oceano Pacífico. Em 1894, o Japão entrou em guerra contra a China, na denominada "Primeira Guerra Sino-Japonesa". Em 1895, como resultado da vitória japonesa, o Japão obteve muitos territórios. Foi nesse conflito que o Japão ocupou as ilhas Sensaku/Diaoyu.
Porém, a animosidade sino-japonesa atual vem de um confronto mais recente. Na década de 1930, em um processo de expansão pela Ásia e pelo Pacífico, o Japão avançou contra várias porções do território chinês, no que ficou conhecido como "Segunda Guerra Sino-Japonesa". Tal conflito, assim como a Guerra Civil Espanhola, é considerado um dos prelúdios da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em que o Japão se aliou à Alemanha Nazista e à Itália Fascista.
Em 1931, o Japão invadiu província chinesa da Manchúria e instalou ali um regime fantoche liderado por Pu Yi, o último imperador chinês (ver filme O último Imperador, de Bernardo Bertolucci). Em 1937, o Japão iniciou uma invasão de grande envergadura ao território chinês com o objetivo de dominar toda a China. A postura dos militares japoneses foi extremamente violenta. A ocupação da então capital chinesa, Nanquim, foi caracterizada por atos cruéis perpetrados pelos soldados japoneses. Assassinatos a sangue frio, fuzilamentos sumários, torturas e violência sexual contra mulheres e crianças ocorreram com a conivência de militares de altas patentes. O episódio desde então é conhecido como "estupro de Nanquim" (Este episódio é bem demonstrado no filme recente Flores do Oriente).
Os japoneses ocuparam grandes extensões do território no Leste chinês até a derrota na Segunda Guerra Mundial. Em 9 de setembro de 1945, as tropas japonesas se renderam e iniciaram a retirada.
Porém, como podemos verificar pelos distúrbios desses últimos dias, as feridas continuam abertas.
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