O Mali passa por uma grave crise política desde o início de 2012, quando grupos extremistas ligados à Al-Qaeda tomaram porções de territórios no Norte do país, uma área desértica no meio do Deserto do Sahara.
O Mali é uma ex-colônia francesa. O território que hoje é ocupado pelo país foi palco de lutas entre tropas francesas e os guerreiros locais durante grande parte do século XIX. Em 1898, após sangrentas batalhas, finalmente, a França conquistou o Mali, denominando-o "Sudão Francês".
Após uma breve união com Senegal, o Mali tornou-se independente em 1960. O regime pós-independência, liderado por Modibo Keita, foi instalado como um Estado socialista, de partido único. Em 1968, Moussa Traore tomou o poder no país por meio de um golpe e ocupou o poder até 1991.
Em 1992, ocorreram as primeiras eleições democráticas do Mali. Contando com a participação de vários partidos políticos, Alpha Konare tornou-se presidente. Por muitos anos, o Mali foi considerado um modelo de regime democrático, sendo indicado como exemplo a ser seguido por toda a África.
Contudo, as tensões entre diferentes grupos étnicos não foram superados. No início da década de 1990, os tuaregues iniciaram uma insurgência exigindo direitos culturais e mais liberdade sobre sua terra. Em 1999, iniciaram-se combates entre membros da tribo Kunta e uma comunidade árabe por questões políticas locais.
Porém, foi a partir de 2007 que a luta entre diferentes tribos e comunidades explodiu, quando grupos tuaregues deslancharam uma onda de violência contra o governo e contra as comunidades rivais. Em fevereiro de 2009, após ação firme do governo, os tuaregues se renderam. Porém, enquanto isso, grupos extremistas islâmicos, inspirados pela Al-Qaeda começaram a ganhar força na região. Nesse mesmo ano, a Argélia começou a fornecer equipamentos militares para auxiliar o governo do Mali a combater os tais grupos extremistas.
No início de 2012, novos ataques tuaregues ocorreram no norte do país, dando origem a uma grande onda de refugiados para a Mauritânia. Além disso, os rebeldes tuaregues tomaram o controle da região norte do Mali e declaram independência.
Diante da situação explosiva no norte, uma junta militar depôs o presidente Amandou Toumani Touré, argumentando que fora sua fraqueza e hesitação que permitiram que o caos se instalasse no país.
Paralelamente a isso, grupos islamistas ligados à Al-Qaeda expulsaram os tuaregues de partes do território do norte, o que levantou extrema preocupação nos países da região de que o Mali se tornasse um santuário para terroristas.
Além disso, a situação política na capital, Bamako, se deteriorava cada vez mais. Pressionada pela comunidade internacional, a junta militar permitiu que um governo civil fosse reinstalado sob a presidência de Dioncounda Traoré. Porém, posteriormente, o presidente foi alvo de duros protestos favoráveis à juta militar. Nesses distúrbios, o presidente foi agredido por uma multidão e precisou receber tratamento médico em Paris. Assumiu em seu lugar o Primeiro Ministro Cheick Modibo Diarra. Mas em dezembro de 2012, no que aparentemente foi um novo golpe militar, Diarra anunciou sua renúncia em cadeia de rádio e televisão. Foi substituído por um novo Primeiro Ministro, Diango Sissoko. Pouco depois, Traoré retornou e reassumiu como presidente.
Enquanto isso, diante da instabilidade política, o exército malinense se viu incapaz de combater eficazmente os rebeldes. Para piorar a situação, os grupos tuaregues se juntaram aos islamistas e declararam o norte do país um estado islâmico, instalando no local uma interpretação extremista da lei islâmica. A população local passou a ser alvo de um severo regime extra-governamental. Além disso, gradativamente, os rebeldes ganhavam mais e mais terreno.
O norte do Mali passou a ser controlado por uma coalizão de diversos agrupamentos políticos islâmicos e seculares - o grupo islamista tuaregue Ansar Dine; os jihadistas do grupo "Movimento para a Unificação e para a Jihad na África Ocidental" (MUJAO); o grupo chamado "Al-Qaeda no Maghreb Islâmico"; os secularistas tuaregues do "Liberação do Azawad" e outros grupos menores. Embora haja divergência ideológicas e doutrinário-religiosas entre eles, os grupos decidiram se unir para tomar o controle do norte do país.
No início de janeiro de 2013, os rebeldes rumaram para o sul com um contingente estimado entre 800 e 900 combatentes, se locomovendo em cerca de 200 veículos. Conseguiram uma vitória importante, quando tomaram a importante cidade de Kona. Com isso, criaram uma realidade no terreno, limitando consideravelmente o controle governamental sobre uma grande parcela de território.
Diante da escalada de violência, o Presidente Traoré solicitou auxílio francês. O governo de Fraçois Hollande prontamente respondeu, enviando forças armadas para ajudar as forças do governo de Mali a lutar contra os rebeldes e ordenando que caças franceses bombardeassem o território controlado pelos rebeldes.
Diante da escalada de violência, o Presidente Traoré solicitou auxílio francês. O governo de Fraçois Hollande prontamente respondeu, enviando forças armadas para ajudar as forças do governo de Mali a lutar contra os rebeldes e ordenando que caças franceses bombardeassem o território controlado pelos rebeldes.
Desde então, as forças francesas vêm atacando os rebeldes por terra e ar. Além disso, países vizinhos - Nigéria, Níger, Burkina Faso, Togo e Senegal - formaram a chamada MISMA (Força Internacional de Apoio ao Mali) para evitar que os rebeldes tomem completamente o poder no Mali.
O conflito no Mali ganhou proeminência regional. Extremistas do grupo chamado "Batalhões que Assinam com Sangue", afirmando possuir laços com a Al-Qaeda, invadiram uma usina de petróleo e gás no Leste da Argélia, tomando centenas de reféns (Ver O que está acontecendo na Argélia?). Os extremistas alegavam que sua ação era uma retaliação à intervenção da França no Mali. Exigiam que Paris pusesse fim à intervenção militar no país e condenavam o governo argelino por permitir que aviões franceses utilizassem o espaço aéreo da Argélia em rota para atacar os rebeldes.
A intervenção da França no Mali se iniciou em 11 de janeiro de 2013 e, inicialmente, as forças francesas obtiveram ganhos notáveis. O principal objetivo era evitar que as forças rebeldes continuassem sua marcha para o Sul e tomassem a capital, Bamako.
Por meio de ataques aéreos, os franceses conseguiram desbaratar focos dos grupos extremistas e barraram o avanço rebelde. Além disso, tropas da coalizão entre França, Chade e Níger conseguiram expulsar os rebeldes de cidades importantes, como Goa e Timbuktu.
Inicialmente, previa-se uma vitória relativamente fácil das tropas de coalizão lideradas pela França. Contudo, isso não ocorreu. Até o momento, embora as tropas estrangeiras tenham recuperado cidades importantes, os rebeldes têm oferecido forte resistência em algumas partes do norte do país. Enquanto isso, denúncias indicam que as tropas do exército do Mali vêm cometendo ataques contra civis nas áreas habitadas por tuaregues e árabes.
No início de março de 2013, foi anunciado que um dos mais importantes líderes jihadistas do Norte da África, Mokhtar Belmokhtar, havia sido morto pelo exército do Chade. No entanto, seus seguidores afirmam que eles está "vivo e bem".
Em 12 de março de 2013, a França anunciou que irá entregar a missão no Mali à Organização das Nações Unidas (ONU).
A situação permanece indefinida e, ainda que seja obtida uma vitória sobre os rebeldes, a instabilidade que grassa na região não permite que se reivindique uma vitória final.
O conflito no Mali ganhou proeminência regional. Extremistas do grupo chamado "Batalhões que Assinam com Sangue", afirmando possuir laços com a Al-Qaeda, invadiram uma usina de petróleo e gás no Leste da Argélia, tomando centenas de reféns (Ver O que está acontecendo na Argélia?). Os extremistas alegavam que sua ação era uma retaliação à intervenção da França no Mali. Exigiam que Paris pusesse fim à intervenção militar no país e condenavam o governo argelino por permitir que aviões franceses utilizassem o espaço aéreo da Argélia em rota para atacar os rebeldes.
A intervenção da França no Mali se iniciou em 11 de janeiro de 2013 e, inicialmente, as forças francesas obtiveram ganhos notáveis. O principal objetivo era evitar que as forças rebeldes continuassem sua marcha para o Sul e tomassem a capital, Bamako.
Por meio de ataques aéreos, os franceses conseguiram desbaratar focos dos grupos extremistas e barraram o avanço rebelde. Além disso, tropas da coalizão entre França, Chade e Níger conseguiram expulsar os rebeldes de cidades importantes, como Goa e Timbuktu.
Inicialmente, previa-se uma vitória relativamente fácil das tropas de coalizão lideradas pela França. Contudo, isso não ocorreu. Até o momento, embora as tropas estrangeiras tenham recuperado cidades importantes, os rebeldes têm oferecido forte resistência em algumas partes do norte do país. Enquanto isso, denúncias indicam que as tropas do exército do Mali vêm cometendo ataques contra civis nas áreas habitadas por tuaregues e árabes.
No início de março de 2013, foi anunciado que um dos mais importantes líderes jihadistas do Norte da África, Mokhtar Belmokhtar, havia sido morto pelo exército do Chade. No entanto, seus seguidores afirmam que eles está "vivo e bem".
Em 12 de março de 2013, a França anunciou que irá entregar a missão no Mali à Organização das Nações Unidas (ONU).
A situação permanece indefinida e, ainda que seja obtida uma vitória sobre os rebeldes, a instabilidade que grassa na região não permite que se reivindique uma vitória final.
Excelente blog! Ah, mto interessante sua tese de mestrado. Realmente é a parte mais interessante na historia, pra mim pelo menos é. Favoritarei!!
ResponderExcluirMuito obrigado por ter escrevido este post. Me esclareceu bastante coisa.
ResponderExcluir