Diariamente, somos bombardeados por informações vindas de todos os lados. Recebemos notícias, indicadores, análises, e prognósticos que chegam dos cinco continentes. Apesar da enormidade de informações, quase sempre nos vemos incapazes de compreender o que ocorre. Este blog pretende ser uma contribuição para entender esse mundo complexo. É claro, não tem a pretensão de ser um oráculo, que dê conta de tudo o que ocorre no mundo, mas uma busca incessante de entender o que acontece à nossa volta.

terça-feira, 10 de abril de 2012

O que é a "Crise do Euro"?



Nos últimos meses, temos assistido às tentativas desesperadas dos países da União Europeia em vencer o que vem sendo chamado de “Crise do Euro”. Vemos países como Grécia e Itália no meio de uma grave turbulência econômica, trabalhadores condenando políticas oficiais, enfrentamentos entre manifestantes e a polícia nas ruas e lemos cifras que chegam aos bilhões. Porém, como se trata de um fenômeno relacionado a questões financeiras e com alguns aspectos que necessitam de entendimento teórico de economia, ficamos, na maioria das vezes, impossibilitados de entender a crise apropriadamente. Abaixo, um texto que tenta, na medida do possível, apresentar o que é a Crise do Euro.

O fenômeno convencionalmente denominado “Crise do Euro” é a crise gerada pela dificuldade de alguns países da União Europeia em pagar as dívidas acumuladas durante os últimos anos. A crise começou na Grécia, mas ocorreu em seguida na Espanha, em Portugal, na Itália e na Irlanda. A dívida cresceu de tal forma que gerou a possibilidade de um “calote”. Investidores particulares e grandes bancos, de várias partes do mundo, têm fundos investidos nesses países em títulos do tesouro e pressionaram seus governos a exigir dos países devedores o pagamento das dívidas. Diante da gravidade da crise, abriu-se a possibilidade, inclusive, do Euro ser abandonado.
Esses cinco países tentaram de todas as formas manter suas dívidas públicas em níveis aceitáveis ao longo dos anos 2000. Porém, após a crise financeira global de 2008/2009, gregos, espanhóis, irlandeses, portugueses e italianos viram suas economias passarem por períodos de grandes dificuldades. Com o abalo da economia mundial, esses países tiveram parcos crescimentos de seu Produto Interno Bruto (PIB) e, em alguns casos, houve até queda do PIB. O resultado foi a impossibilidade de obter receita suficiente para pagar as dívidas. A possibilidade de calote na Grécia fez com que investidores parassem de comprar títulos de outros países, o que espalhou a crise para outras economias, em especial as mais frágeis. Tudo isso enfraqueceu o poder financeiro do Euro frente a outras moedas.
Especialistas se dividem quanto às causas da crise. Há três explicações principais sendo apresentadas no debate. A primeira explicação, e mais divulgada, diz que ao longo dos anos esses países não fizeram reformas estruturais, como a trabalhista e a fiscal, o que ocasionou distorções que não permitiram uma arrecadação adequada. Para os defensores dessa explicação, os governos deveriam ter feito reformas na previdência e no mercado de trabalho, por exemplo, para equilibrar as contas – isto é, para arrecadar o suficiente para honrar os compromissos financeiros assumidos quando puseram seus títulos à venda no mercado.
A segunda explicação aponta para o conjunto de distorções econômicas próprias de cada país. Para os defensores dessa tese, os governos devem rever suas políticas econômicas voltadas para satisfazer as necessidades dos mercados financeiros. Deveriam, portanto, não pagar as dívidas. Defensores dessa tese alegam que a maioria dos investidores são especuladores que lucram enormemente com o “jogo do mercado financeiro” e causam danos às economias nacionais. Além disso, dizem que em muitos países nos quais políticas econômicas austeras foram implementadas o resultado foi mais recessão, pois pessoas sem dinheiro não consomem, as empresas não lucram e demitem, tirando do mercado mais consumidores potenciais, criando um círculo vicioso que faz a economia declinar sem parar.
A terceira explicação diz que os países mais fracos economicamente da União Europeia não tiveram meios de competir em um mercado comum europeu; e como tiveram de adotar o Euro como moeda e abandonar suas moedas nacionais, não puderam realizar políticas monetárias e cambiais para se tornarem mais competitivas; e o resultado foi a queda do PIB e a impossibilidade de pagar as dívidas. Alguns especialistas que defendem essa tese advogam a saída desses países da zona do Euro.
Diante do grave quadro, os países mais fortes da União Europeia buscaram meios para solucionar a crise. Grécia, Portugal e Irlanda receberam bilionários empréstimos para equilibrar suas contas, em um acordo com Alemanha, França e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Outros países também são alvo de ajuda financeira. Como contrapartida, os governos desses países deveriam fazer reformas trabalhistas e fiscais.
A crise econômica transbordou para crises políticas. Na Grécia e na Espanha, milhares de pessoas se manifestaram contra as políticas de austeridade propostas. O primeiro-ministro grego, George Papandreou, ameaçou colocar o acordo sob referendo popular, o que gerou indignação entre alemães e franceses, que davam o acordo como garantido. Dentro do próprio país houve reações contrárias à consulta pública sobre o pacote de ajuda financeira. Todo o mal-estar advindo da crise fez com que Papandreou renunciasse e Lucas Papademus assumisse seu lugar. Houve, inclusive, rumores sobre a saída da Grécia da União Europeia.
Outros países passam por problemas políticos semelhantes. Na Itália, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi também não resistiu e renunciou. Assumiu em seu lugar um “técnico”, Mario Monti, que luta para pôr fim à crise na Itália. Na Espanha e na Grécia, as grandes manifestações convocadas pelos autodenominados “Indignados” pressionam seus governos a pôr um fim na crise nas economias familiares. Na Espanha, a taxa de desemprego ultrapassa os 20%.


Policiais e manifestantes se enfrentam nas ruas de Atenas, Grécia

Apesar de inúmeras tentativas, o Euro continua em crise e ainda paira uma ameaça de abandono da moeda comum. As populações estão nas ruas demonstrando insatisfação e os governos mandam a polícia restaurar a ordem. Confrontos de rua ocorrem com frequência.
O mundo espera ansioso pela rápida solução da pior crise econômica e social da Europa desde os anos 1930.

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