Duas coisas
aparentemente distintas estão se encontrando dramaticamente esta semana. O
Grande Prêmio do Bahrein de Fórmula 1 e a revolta da população bareinita contra
o rei Hamad ben Isa al-Khalifa. Não é a primeira vez que o esporte e a revolta
colidem. Em 2011, o GP,
marcado para março, foi cancelado devido à
insegurança gerada pela revolta anti-governamental iniciada em fevereiro.
O Bahrein é
mais um local onde acontecem revoltas populares contra seus líderes políticos,
movimentos conhecidos na grande mídia como “Primavera Árabe”.
O rei Hamad al-Khalifa
governa o Bahrein desde 2002. Hamad al-Khalifa faz parte do grupo social de fé
muçulmana sunita, que governa a maioria da
população do país, que é de crença muçulmana
xiita. Em 1971, o Bahrein se tornou
independente da Grã-Bretanha e conheceu um período de existência de uma
Assembleia Nacional. Porém em 1975, a
Assembleia foi dissolvida. Hoje, o país é
governado pelo rei e por um primeiro-ministro. Além disso,
possui duas câmaras – uma delas é formada por 40 membros indicados pelo
monarca; a outra é formada por 40 representantes da população. O poder recai principalmente sobre a primeira.
A câmara dos representantes possui apenas poderes consultivos. Os revoltosos
demandam a mudança do regime.
Os Estados
Unidos mantêm uma posição ambígua em relação à revolta no Barhein. E quem olha
o mapa da região (abaixo) vai prontamente entender o porquê.
O Bahrein é
uma ilha localizada no Golfo Pérsico. Está muito próximo da Arábia Saudita,
do Irã e do Kuwait. É uma área importantíssima em termos econômicos,
devido ao grande fluxo de petróleo, e em
termos militares, devido à proximidade do Irã,
um país acusado de tentar construir armas nucleares.
Para os
Estados Unidos, o aspecto militar é ainda mais
importante. O Bahrein é a sede da 5ª Frota da Marinha norte-americana,
localizada aí justamente por conta dos conflitos na região e por conta do
trânsito de navios petroleiros.
Para o governo
norte-americano, a queda do governo de Hamad al-Khalifa
pode significar a entrada em cena de um governo anti-americano. Por isso,
o governo de Barack Obama está em uma posição bastante delicada. O governo do
rei Hamad age com intensa violência contra os manifestantes. Assim,
da mesma forma que Obama critica a violência na Síria,
deve também condenar a repressão do rei do Bahrein. A Secretária de Estado
norte-americana Hillary Clinton tem repetidas vezes pedido “moderação” ao
governo de al-Khalifa, muito diferente de seu discurso
dirigido ao governante da Síria, Bashar
al-Asad, a quem Clinton pediu que renunciasse
ao poder.
Além disso,
a Arábia Saudita, maior aliado dos Estados
Unidos no mundo árabe, é aliada do governo do
Bahrein – já que ambos são regimes conduzidos por muçulmanos sunitas. O governo
saudita chegou a enviar tropas ao Bahrein para auxiliar a reprimir as revoltas,
em nome do Conselho de Cooperação do Golfo (formado por Arábia Saudita,
Bahrein, Catar,
Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã ).
Os
manifestantes no Bahrein esperam obter maior visibilidade para suas demandas
utilizando o GP de Fórmula 1, evento
automobilístico transmitido para todo o mundo.
O primeiro Grande
Prêmio do Bahrein de Fórmula 1 ocorreu em 2004 e foi o primeiro GP da categoria
a ser realizado em um país do Oriente Médio. O Circuito Internacional do
Barhein, localizado em Sakhir,
a 30 Km da capital Manama, começou a ser
construído em 2002 e custou aproximadamente € 150 milhões.
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