Diariamente, somos bombardeados por informações vindas de todos os lados. Recebemos notícias, indicadores, análises, e prognósticos que chegam dos cinco continentes. Apesar da enormidade de informações, quase sempre nos vemos incapazes de compreender o que ocorre. Este blog pretende ser uma contribuição para entender esse mundo complexo. É claro, não tem a pretensão de ser um oráculo, que dê conta de tudo o que ocorre no mundo, mas uma busca incessante de entender o que acontece à nossa volta.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A revolta no Bahrein e a Fórmula 1

Duas coisas aparentemente distintas estão se encontrando dramaticamente esta semana. O Grande Prêmio do Bahrein de Fórmula 1 e a revolta da população bareinita contra o rei Hamad ben Isa al-Khalifa. Não é a primeira vez que o esporte e a revolta colidem. Em 2011, o GP, marcado para março, foi cancelado devido à insegurança gerada pela revolta anti-governamental iniciada em fevereiro.
O Bahrein é mais um local onde acontecem revoltas populares contra seus líderes políticos, movimentos conhecidos na grande mídia como “Primavera Árabe”.
O rei Hamad al-Khalifa governa o Bahrein desde 2002. Hamad al-Khalifa faz parte do grupo social de fé muçulmana sunita, que governa a maioria da população do país, que é de crença muçulmana xiita. Em 1971, o Bahrein se tornou independente da Grã-Bretanha e conheceu um período de existência de uma Assembleia Nacional. Porém em 1975, a Assembleia foi dissolvida. Hoje, o país é governado pelo rei e por um primeiro-ministro. Além disso, possui duas câmaras – uma delas é formada por 40 membros indicados pelo monarca; a outra é formada por 40 representantes da população.  O poder recai principalmente sobre a primeira. A câmara dos representantes possui apenas poderes consultivos. Os revoltosos demandam a mudança do regime.
Os Estados Unidos mantêm uma posição ambígua em relação à revolta no Barhein. E quem olha o mapa da região (abaixo) vai prontamente entender o porquê.
O Bahrein é uma ilha localizada no Golfo Pérsico. Está muito próximo da Arábia Saudita, do Irã e do Kuwait. É uma área importantíssima em termos econômicos, devido ao grande fluxo de petróleo, e em termos militares, devido à proximidade do Irã, um país acusado de tentar construir armas nucleares.


Para os Estados Unidos, o aspecto militar é ainda mais importante. O Bahrein é a sede da 5ª Frota da Marinha norte-americana, localizada aí justamente por conta dos conflitos na região e por conta do trânsito de navios petroleiros.
Para o governo norte-americano, a queda do governo de Hamad al-Khalifa pode significar a entrada em cena de um governo anti-americano. Por isso, o governo de Barack Obama está em uma posição bastante delicada. O governo do rei Hamad age com intensa violência contra os manifestantes. Assim, da mesma forma que Obama critica a violência na Síria, deve também condenar a repressão do rei do Bahrein. A Secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton tem repetidas vezes pedido “moderação” ao governo de al-Khalifa, muito diferente de seu discurso dirigido ao governante da Síria, Bashar al-Asad, a quem Clinton pediu que renunciasse ao poder.
Além disso, a Arábia Saudita, maior aliado dos Estados Unidos no mundo árabe, é aliada do governo do Bahrein – já que ambos são regimes conduzidos por muçulmanos sunitas. O governo saudita chegou a enviar tropas ao Bahrein para auxiliar a reprimir as revoltas, em nome do Conselho de Cooperação do Golfo (formado por Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã ).
Os manifestantes no Bahrein esperam obter maior visibilidade para suas demandas utilizando o GP de Fórmula 1, evento automobilístico transmitido para todo o mundo.
O primeiro Grande Prêmio do Bahrein de Fórmula 1 ocorreu em 2004 e foi o primeiro GP da categoria a ser realizado em um país do Oriente Médio. O Circuito Internacional do Barhein, localizado em Sakhir, a 30 Km da capital Manama, começou a ser construído em 2002 e custou aproximadamente € 150 milhões.

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