Diariamente, somos bombardeados por informações vindas de todos os lados. Recebemos notícias, indicadores, análises, e prognósticos que chegam dos cinco continentes. Apesar da enormidade de informações, quase sempre nos vemos incapazes de compreender o que ocorre. Este blog pretende ser uma contribuição para entender esse mundo complexo. É claro, não tem a pretensão de ser um oráculo, que dê conta de tudo o que ocorre no mundo, mas uma busca incessante de entender o que acontece à nossa volta.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Crise nas Coreias


Nesta semana, temos assistido à crise entre as Coreias do Norte e do Sul. Os norte-coreanos emitiram ameaças de romper a frágil trégua entre os dois países da pequena península asiática, enquanto os sul-coreanos divulgaram que realizariam exercícios militares em conjunto com os Estados Unidos.
Como podemos compreender as tensas relações entre as duas Coreias?

O conflito remonta ao início da Guerra Fria, mais especificamente à divisão da península ao fim da Guerra da Coreia (1950-1953).
Durante a Segunda Grande Guerra, a península coreana  era parte do Império Japonês. Ao fim da guerra, com a derrota do Japão, os até então aliados Estados Unidos e União Soviética decidiram partilhar a ocupação do território. Escolheram como ponto de demarcação de suas tropas o paralelo 38ºN. Os soviéticos ocuparam o norte da Península Coreana, com a ajuda de aliados locais, e os norte-americanos passaram a ocupar a parte sul.
Em 1948, os soviéticos desocuparam o norte do território, quando foi criada a República Popular da Coreia do Norte, sob controle do Partido Comunista local, presidida por Kim Il Sung. E em 1949, os Estados Unidos retiraram-se do Sul, dando origem à República da Coreia, presidida por Syngman Rhee. O paralelo 38ºN foi tomado como a fronteira entre os dois novos países.

As relações entre a União Soviética e os Estados Unidos já estavam bastante precárias no final da década de 1940 e a península da Coreia era um dos pontos do globo onde o conflito entre as duas superpotências era travado. Ao se retirarem do norte da península, os soviéticos passaram o poder aos comunistas locais e não permitiram que a ONU realizasse um referendo sobre a reunificação do território. Tal postura criou uma profunda contrariedade por parte do governo dos Estados Unidos. Por outro lado, as relações entre as forças locais eram de animosidade aberta, em parte reflexo do confronto entre soviéticos e norte-americanos.
Diante disso, as relações entre as duas Coreias eram tensas. Ambos os governos reivindicavam o governo de toda a península e frequentemente havia escaramuças fronteiriças. Porém, em 25 de junho de 1950, o governo norte-coreano reuniu suas tropas e - o que para muitos foi uma grande surpresa - invadiu a Coreia do Sul. Prontamente houve reações sul-coreanas e norte-americanas a essa medida e a guerra teve início.
Após intensos combates, em que os Estados Unidos forneceram armamentos para seus aliados do Sul e a China entrou na guerra ao lado do Norte, a Guerra da Coreia terminou em 1953 com um acordo de armistício. A fronteira permaneceu fixada no paralelo 38ºN. Não houve um tratado de paz, mas uma manifestação de término das hostilidades. Desde então, as Coreias não mantêm relações diplomáticas e vivem oficialmente em estado de guerra. A situação se manteve estável durante boa parte do século XX, embora crises ocasionais ocorressem.


No entanto, ao longo do tempo, ocorreram algumas tentativas de reaproximação entre os dois vizinhos. No início dos anos 2000, parecia que um acordo de paz estava a caminho. Em 2000, o Presidente da Coreia do Sul fez uma visita ao Norte e nas Olimpíadas de Sidney, também em 2000, as delegações dos dois países entraram juntas na cerimônia de abertura dos jogos, sob uma mesma bandeira. Contudo, todos esses empreendimentos falharam em obter a paz entre os dois países ou uma unificação da península.
A situação começou a se agravar durante o governo de Kim Jong-Il (filho de Kim Song Il, morto em 1994), por conta do programa nuclear norte-coreano. Em 2002, o governo norte-coreano resolveu reativar seu programa nuclear e passou a não permitir inspeções dos oficiais da Agência Internacional de Energia Atômica - AIEA. Em 2006, o governo anunciou que havia explodido um artefato nuclear.
A partir de então, os norte-coreanos adotam uma política pendular entre uma aproximação e um distanciamento em relação à comunidade internacional. Praticamente isolado, o país depende fundamentalmente da China, seu maior aliado e parceiro comercial, para obter alimentos, combustíveis e armas.
Em dezembro de 2011, Kim Jong-Il morreu e seu filho Kim Jong-Un assumiu o comando do país. Jovem, apontado por alguns como amante do entretenimento ocidental, despertou esperança de que poderia haver uma nova tentativa de aproximação com a Coreia do Sul e com os Estados Unidos, assim como o abandono do programa nuclear. Porém, rapidamente, o jovem líder mostrou que manteria a postura política de seu pai e de seu avô.
No início de 2013, o governo norte-coreano anunciou a explosão de mais um artefato nuclear. A comunidade internacional adotou sanções contra o país por meio do Conselho de Segurança da ONU, contando, inclusive, com o voto da China.
Como reação,  Kim Jong-Un cortou a linha de comunicação com a Coreia do Sul e declarou nulos os acordos de armistício. A tensão está em um nível elevado e alguns analistas temem uma nova guerra na península coreana.
Devemos aguardar os próximos desdobramentos para vermos se tal temor irá se dissipar ou não.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AVISO: Comentários somente serão aceitos se dedicados a discutir o tema em pauta. Críticas serão muito bem-vindas. Porém, não serão divulgados comentários com conteúdo preconceituoso, seja qual for, nem que violem a legislação.