Durante as últimas semanas, temos visto um intenso esforço diplomático para que se chegue a um acordo entre Irã, Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Alemanha a respeito do
Programa Nuclear Iraniano. Certamente, os dois atores mais envolvidos são os Estados Unidos e o Irã, países que são adversários há décadas, desde que a Revolução de 1979 derrubou o Xá Rheza Pahlevi, aliado de Washington.
Encontros tensos, vazamentos de informações, uma movimentação intensa de oficiais diplomáticos - tudo deixa transparecer que a negociação não será fácil.
Porém, há alguma possibilidade dessa negociação dar certo?
Como sempre acontece com negociações internacionais, é difícil saber ao certo o que está ocorrendo a portas fechadas e se o que é divulgado para a imprensa é real ou apenas um modo encontrado para passar mensagens a adversários e a alguns aliados. No entanto, pelo que ocorre nos Estados Unidos e no Irã, podemos tentar inferir algumas possibilidades de ações por parte dos envolvidos.
O Irã tem assumido uma postura bastante diferente desde que
Hasan Rohani assumiu a presidência do país, sucedendo Mahmoud Ahmadinejad, que era
persona non grata nos meios diplomáticos internacionais por sua postura belicosa e discursos inflamados (Ahmadinejad chegou, inclusive, a negar o Holocausto). Rohani assumiu a presidência do Irã em meio a uma grave crise econômica, advinda das sanções internacionais impostas por Estados Unidos, União Europeia e ONU.
Desde 2006, a ONU aprovou resoluções condenando o enriquecimento de Urânio em usinas nucleares iranianas. Porém, autoridades do país dizem que o programa nuclear é pacífico e o enriquecimento de Urânio se deve a necessidades energéticas. Como esse procedimento pode levar à construção de bombas nucleares, as potências europeias e Estados Unidos pressionam para que o Irã ponha fim ao programa ou o submeta a uma rigorosa inspeção por parte da Agência Internacional de Energia Atômica - AIEA. O Irã nega as acusações de que seu programa tem fins militares, afirmando que se mantém comprometido com o Tratado de Não-Proliferação de Armas Atômicas.
As sanções foram aprovadas e desde então o Irã vem passando por inúmeras dificuldades econômicas. A venda de petróleo, que perfaz cerca de 50% da receita do país, foi duramente afetada. O Irã possui cerca de 9% das reservas de petróleo do mundo.
As sanções da União Europeia são especialmente danosas ao Irã porque como o comércio e outros negócios com os Estados Unidos se mantêm restritos desde 1979, a União Europeia tem sido um dos principais parceiros econômicos do Irã.
Em 2012, a União Europeia baniu a compra de petróleo iraniano. Os europeus compravam 20% da produção iraniana. Entre 2011 e 2013, a exportação de petróleo iraniano caiu de 2,2 milhões de barris por dia para 700 mil. Logo, essa sanção acertou em cheio a economia do país.
Além disso, há as sanções financeiras, que impõem restrições à circulação de divisas entre o Irã e países estrangeiros. Em janeiro de 2012, a União Europeia congelou todos os ativos do Banco Central Iraniano em instituições financeiras dos 27 Estados membros. Já os Estados Unidos, impõem restrições a empresas que têm relações com o Irã, piorando ainda mais a situação do país.
Com isso, nos últimos anos, a economia iraniana vem decrescendo significativamente, muitos negócios pequenos e médios estão à beira da falência e o desemprego cresceu, especialmente entre os jovens.
Assim, é bastante provável que Rohani busque um acordo. Se a situação permanecer nesse ritmo, analistas avaliam que a economia do Irã pode entrar em colapso dentro de alguns meses.
Na verdade, Rohani foi eleito com um discurso político que afirmava que tiraria o Irã do isolamento diplomático criado por Ahmadinejad. Para os apoiadores de Rohani, o Irã deve adotar algumas medidas políticas demandadas pelos Estados Unidos e União Europeia. Porém, ele encontrará uma feroz resistência interna se resolver adotar um tom mais conciliatório com Washington.
Por outro lado, parece que o governo norte-americano anseia por uma solução diplomática rápida. Há uma pressão para que o Presidente Barack Obama não permita que o Irã tenha armas nucleares. A principal voz nesse sentido é do Primeiro Ministro de Israel Bejnamin Netanyahu, que disse estar disposto a atacar o Irã, sozinho se necessário (ou seja, mesmo sem o aval dos Estados Unidos).
Isso seria a pior coisa a acontecer para a estratégia de longo prazo dos Estados Unidos no Oriente Médio e no Golfo Pérsico. Os Estados Unidos tentam nesse momento estabilizar a região sem o recurso militar. Há uma pressão interna para que Obama não envolva os Estados Unidos em uma nova guerra no Golfo Pérsico, depois dos efeitos catastróficos da guerra do Iraque (
Ver 10 anos da Guerra do Iraque, parte 1 e parte 2). Assim, se Israel atacar o Irã e a guerra adentrar um estágio perigoso (com o envolvimento de outros países), os Estados Unidos deverão agir. Para muitos nos Estados Unidos, esse seria um cenário catastrófico, que criaria condições econômicas devastadoras para a região, o que, por sua vez, prejudicaria a já combalida economia norte-americana.
Por conta disso, talvez Estados Unidos e Irã cheguem a um acordo. Embora as negociações sejam difíceis, há possibilidade de que uma solução de compromisso seja alcançada. Já foram propostas nos últimos dias algumas saídas, como o fornecimento de Urânio por países estrangeiros, em troca da não utilização de certos equipamentos para enriquecimento no próprio Irã. Possivelmente, negociações sobre as intenções militares dos norte-americanos na região devem estar ocorrendo, pois o Irã não desejaria abdicar de um possível programa nuclear militar sem garantias de que o país não seria atacado pelos Estados Unidos.
Por fim, não é certo que o acordo seja alcançado, mas os dois lados anseiam isso. A dificuldade reside nos limites que cada um tem por trás de si para aceitar certas condições. Tanto Irã quanto Estados Unidos não querem que a questão degenere em confronto militar, mas também não podem aceitar qualquer condição.
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