No último dia 14 de junho de 2013, os iranianos foram às urnas escolher seu novo presidente. Com uma expressiva votação, o que lhe garantiu a vitória ainda no primeiro turno, o clérigo Hassan Rohani foi eleito.
Mas, afinal, quem é Rohani? E qual o real papel que terá nas políticas interna e externa da República Islâmica do Irã?
Rohani é parte do bloco reformista do Irã. Opositor do atual presidente Mahmoud Ahmadinejad, ele defende uma postura diferente na política externa iraniana. Durante a campanha eleitoral, ele disse repetidas vezes que o Irã estava rumando a um caminho perigoso ao afrontar as potências ocidentais, especialmente os Estados Unidos. Ele defendeu, inclusive, abrir um diálogo direto com Washington. No entanto, não deu sinais de que iria trabalhar para paralisar o programa nuclear iraniano. Por outro lado, em debates eleitorais, Rohani se posicionou assertivamente em prol de reformas políticas. Ele frequentemente propôs a discussão de tópicos como justiça, direitos civis e prosperidade econômica.
Rohani nasceu em 13 de novembro de 1948 no seio de uma família religiosa. Iniciou seus estudos em 1960. Em 1969, ingressou na Universidade de Teerã onde obteve o título de Bacharel em Direito. Ele possui Doutorado em Direito pela Universidade de Glascow, na Grã-Bretanha. Rohani foi ativo politicamente na oposição ao Xá Rehza Pahlevi e participou da política que culminou na Revolução Iraniana de 1979. Durante a Guerra Irã-Iraque foi membro do Supremo Conselho de Defesa. Eleito parlamentar diversas vezes, foi o negociador-chefe para assuntos nucleares durante o governo de Mohammed Khatami (1997-2005). Rohani fala, além de persa, árabe e inglês. Possui intensa atividade acadêmica, sendo autor de mais de 100 livros e 700 artigos.
Rohani foi o único clérigo que obteve permissão para participar das eleições. Sua vitória manifesta uma divergência interna no Irã, entre clérigos que defendem reformas no sistema político e aqueles que entendem que nada deve mudar. O principal representante da ala conservadora era Said Jalili, já que Ahmadinejad não poderia concorrer, pois já havia cumprido os dois mandatos permitidos pela lei.
Rohani não está no extremo do polo reformista. Alguns o consideram, na verdade, alguém "menos conservador". É preciso ressaltar que o Conselho dos Guardiães (uma das principais instituições do país e que escolhe o Líder Supremo) é quem avalia quais candidatos poderão concorrer. Dos quase 700 candidatos que se apresentaram, somente 10 puderam concorrer no pleito. Assim, vários candidatos com uma agenda mais contundente de reformas foram deixados de fora da disputa. Um forte candidato, o reconhecidamente reformista Akbar Hashemi Rafsanjani (presidente do Irã entre 1989 e 1997), foi impedido de concorrer pelo Conselho dos Guardiães, que alegou motivos de saúde e sua idade avançada.
Diante disso, Rohani recebeu apoio de várias figuras reformistas, como Rafsanjani e Khatami. O outro candidato de tendência reformista era Mohammed Reza Aref. Porém, Rafsanjani solicitou que Aref desistisse de concorrer para que o campo reformista votasse em massa em Rohani.
Após a confirmação da vitória, Rohani recebeu mensagens promissoras do presidente norte-americano Barack Obama, que, por meio de seu porta-voz, disse que a vitória de Rohani era um "sinal de esperança" para o país, tanto em relação às reformas internas, quanto em relação à busca por uma resolução do impasse nuclear.
Contudo, por mais que a eleição de Rohani seja vista como promissora rumo a uma resolução das divergências nucleares, talvez ele não tenha condições de levar adiante seus projetos. O presidente do Irã tem a seu cargo algumas atribuições relevantes. Como Chefe de Governo e como a figura central do Poder Executivo, tem a responsabilidade de representar o país em fóruns internacionais, elaborar a política econômica e formular programas sociais e educacionais. Além disso, o presidente tem alguma voz nas discussões sobre a o grau de permissão de atuação da imprensa. Porém, ele é o segundo na hierarquia do país. Assim, quanto à política externa e a questões de caráter de fundação da República, quem tem a palavra final é o Líder Supremo, atualmente o Aiatolá Ali Khamenei. Por isso, o Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, manifestou ceticismo com o resultado das eleições e solicitou à comunidade internacional que permaneça com as sanções ao Irã.
A vitória de Rohani é um claro indicativo que os iranianos almejam reformas no sistema político e querem evitar uma escalada militar que poderia resultar em uma guerra, seja contra Israel, seja contra os Estados Unidos. O comparecimento às urnas foi de cerca de 72%, bem inferior aos 89% das últimas eleições. Por outro lado, o pleito foi bem mais tranquilo em relação a 2009. Nesse ano, uma onda de protestos (as maiores manifestações desde a revolução) contra a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad culminou em violência e centenas de mortos. Os manifestantes alegaram que a eleição fora fraudulenta e que maquinações políticas haviam impedido que o reformista Mir-Hussein Moussavi vencesse. Em 2013, nenhum candidato com a agenda de Moussavi teve permissão de concorrer. De todo modo, a busca por reformas se manteve nas atuais eleições. A escolha de uma figura de tendência reformista, ainda no primeiro turno, representa um claro indicativo da demanda por mudanças entre os iranianos.
O Irã passa por severas dificuldades econômicas, causadas pelas sanções internacionais referentes ao seu programa nuclear. Além dos desafios econômicos, Rohani terá pela frente um combate feroz contra seus adversários que não querem permitir qualquer reforma no regime do país.
Devemos aguardar os próximos acontecimentos para vermos até onde poderá ir o novo presidente.
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